Se você já usou anticoncepcional alguma vez na vida, provavelmente já pulou um comprimido sem querer, tomou o contraceptivo com horas de atraso ou até mesmo consumiu mais de uma pílula no mesmo dia por confusão. Diferentemente da opinião das amigas que também usam o medicamento ou daquela voz interna que tenta acalmar nossa cabeça e nosso coração e nos convencer de que está tudo sob controle, essas confusões não são tão irrelevantes quanto parecem.
Chegar ao fim do mês e perceber que a sua cartela lembra um campo minado cheio de comprimidos restantes é, sim, um bom motivo para se preocupar. Até porque tomar anticoncepcional não é como faltar à academia e compensar no dia seguinte. O pior é que esses hábitos irregulares não se restringem à sua cartela: as jovens brasileiras lideram o ranking global das que mais se esquecem de tomar a pílula: 58% delas não se lembram do medicamento pelo menos uma vez ao mês — a média mundial é de 39%. Se considerarmos os esquecimentos de todo o ano de 2015, a taxa sobe para 89% das brasileiras que utilizam a pílula como principal forma de contracepção. A pesquisa que chegou a essa conclusão foi realizada pela Bayer em nove países, e aqui no Brasil entrevistou 4 500 mulheres entre 21 e 29 anos de idade, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Mais da metade das jovens entrevistadas no Brasil relatou não tomar a pílula no mesmo horário todos os dias. A estudante Mirela Rediss, 21 anos, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, é uma delas. Ela usa o comprimido há cinco anos e confessa já ter testado várias estratégias para manter a disciplina com o medicamento. “Já tive até alarme no celular, mas ele tocava, eu deixava pra depois e quando via tinha esquecido de vez e a menstruação descia. Agora coloquei um lembrete no espelho e deixo a pílula no lugar mais visível do meu quarto para toda vez que me enxergar no reflexo me lembrar do anticoncepcional. Por ter problemas endócrinos e estudar sobre isso na faculdade, entendo que usar a pílula em horários diferentes pode prejudicar o funcionamento deles no meu organismo, por isso tento tomar no mesmo horário. Percebi que o que mais funciona pra mim é enxergar a pílula”, diz.
Mesmo que Mirela tenha noção dos efeitos da desregulação hormonal no corpo, 40% das jovens ouvidas pela pesquisa não consideram necessário utilizar o medicamento sempre na mesma hora. Apesar da praticidade, o anticoncepcional requer atenção e disciplina. Se a paciente seguir as recomendações de uso, o índice de falha é de 0,3%, mas com alguns deslizes ele aumenta para 9%. “Algumas pílulas de baixa dosagem hormonal devem ser ministradas no mesmo horário para garantir a eficácia. A continuidade do uso também traz benefícios como redução do fluxo menstrual, melhora da pele e dos sintomas da TPM”, afirma o médico e professor do Departamento de Ginecologia da Unifesp Afonso Nazário, que coordenou o estudo. A pesquisa também mostrou que mulheres que não costumam tomar os comprimidos no mesmo horário estão mais propensas a se esquecer totalmente de ingeri-los. Aí muitas entram em uma espécie de roleta-russa da gravidez indesejada. Aliás, outro perigo: as brasileiras estão entre as que menos associam a pílula ao preservativo. Enquanto 29% das americanas que tomam contraceptivos orais também usam camisinha, no Brasil a porcentagem das que combinam os métodos cai para 6% — perdemos apenas para as irlandesas (5%). O dado é alarmante se levarmos em consideração que metade das gestações no país não é planejada e que, de acordo com o Ministério da Saúde, a maior concentração de casos de HIV em ambos os sexos está na faixa etária de 25 a 39 anos.
Amiga ou conhecida?
Há quase 60 anos, a pílula anticoncepcional é uma grande aliada das mulheres. Não à toa, é a forma de contracepção mais utilizada no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS). Mas, se no princípio a pílula foi um grande marco para a independência feminina, hoje ela ganha contornos de vilã. Por ela ser uma forma hormonal de contracepção, as acusações de seus possíveis efeitos colaterais, como aumento dos riscos de AVC, infarto, trombose, retenção de líquido, enxaqueca e diminuição da libido, estão fazendo muitas mulheres abandonarem as cartelas.
Por medo dos efeitos indesejados no organismo ou por falta de rotina, umaalternativa à pílula são os contraceptivos
reversíveis de longa duração, os LARCs (long acting reversible contraceptives). Tão seguros quanto a pílula, não precisam de uso correto, têm baixos efeitos colaterais, funcionam por períodos maiores que um ano e compensam financeiramente. Muitos são distribuídos gratuitamente pelo SUS, como é o caso do DIU de cobre.
Outra vantagem são as taxas de eficácia, que superam 99%, porque são colocados por profissionais e independem da memória. Se ao conversar com seu médico você optar por colocar um DIU e depois de algum tempo resolver engravidar, o dispositivo pode ser retirado e não vai atrapalhar seu plano de ser mãe.
Apesar de muitos ginecologistas não sugerirem dispositivos intrauterinos e implantes para pacientes jovens e sem filhos, não existe contraindicação. Inclusive, há três anos a Academia Americana de Pediatria e o Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia recomendam o uso dos LARCs para todas as mulheres. Entre 2001 e 2008, os Estados Unidos lideravam o ranking de gestações não planejadas entre os países desenvolvidos. Mas em seguida, de 2008 a 2011, as taxas caíram. O motivo pode ser explicado pelo fato de que no mesmo período o uso de contraceptivos de longa duração aumentou de 4% para 12% entre quase todos os grupos de mulheres. Veja a seguir opções alternativas de método anticoncepcional para você não precisar mais se preocupar em tomar um comprimido por dia:
Diu de cobre
Tubo colocado no útero que libera íons de cobre e dificulta a entrada dos espermatozoides.
Vantagens: Pode ser utilizado enquanto a mulher estiver amamentando e por aquelas que não podem usar métodos hormonais. Ação local.
Desvantagens: Pode ser expelido pelo organismo, aumentar o fluxo da menstruação, as cólicas menstruais e os riscos de infecção pélvica e gravidez ectópica.
Validade: 5 a 10 anos.
Eficácia: (se utilizado corretamente) 99,4%.
Colocado por um profissional de saúde? Sim.
Preço? R$ 100 a R$ 200. Oferecido no SUS.
Diu hormonal
Funciona de maneira parecida com o de cobre, mas são os hormônios que aumentam o muco cervical e diminuem a movimentação dos espermatozoides. O dispositivo não deixa o endométrio (parede do útero) crescer e isso impede a fixação de um possível óvulo fecundado.
Vantagens: Fluxo menstrual e cólicas diminuem — em muitos casos, a mulher não menstrua. Pode ser usado durante a amamentação, pós-parto ou pós-aborto.
Desvantagens: Pode ser expelido e desregular o ciclo menstrual nos primeiros meses de uso.
Validade: 5 anos.
Eficácia: (se utilizado corretamente) 99,8%.
Colocado por um profissional de saúde? Sim.
Preço: R$ 750 a R$ 1 200, sem contar o valor da colocação, que custa em média R$ 600.
Preservativo
A capa de látex impede que os espermatozoides fecundem o óvulo.
Vantagens: Não é um método hormonal e é o único que previne de DSTs.
Desvantagens: Pode diminuir a sensibilidade ou rasgar.
Validade: A cada ato sexual.
Eficácia: 98%.
Colocado por um profissional de saúde? Não.
Preço: A masculina custa R$ 2 e a feminina R$ 9. Oferecido no SUS.
Anel vaginal
Anel de silicone que quando inserido dentro da vagina libera doses de hormônio e evita a fecundação.
Vantagens: É fácil de usar e apresenta poucos efeitos colaterais.
Desvantagens: Existe a possibilidade de que o anel saia do colo do útero, principalmente durante relações sexuais com penetração. Não é aconselhado para mulheres que já tiveram derrame, ataque cardíaco, trombose ou algum tipo de câncer.
Validade: Mensal.
Eficácia: 99,7%.
Colocado por um profissional de saúde? Não.
Preço: R$ 65 a R$ 90.
Injeção hormonal
Trata-se de um anticoncepcional aplicado no músculo que, à medida que o sangue irriga o local, é liberado na corrente sanguínea. Enquanto o de aplicação mensal possui estrogênio e progesterona, as injeções trimestrais levam apenas progesterona sintética.
Vantagem: Praticidade.
Desvantagem: A quantidade de hormônios presentes nas injeções é 20% maior que a média dos anticoncepcionais orais. Por isso, efeitos colaterais são mais frequentes.
Validade: Mensal ou trimestral.
Eficácia: 99,9% (mensal) e 99,7 (trimestral).
Colocado por um profissional de saúde? Sim.
Preço: Mensal, R$ 15 a R$ 30; trimestral, R$ 25 a R$ 45. Oferecidos no SUS.
Implante hormonal subcutâneo
Um bastonete libera progesterona, hormônio que impede a ovulação.
Vantagens: A mulher pode parar de menstruar e não interfere na lactação.
Desvantagens: São visíveis. É contraindicado para pacientes com doenças venosas, no fígado e histórico familiar de trombose e câncer de mama.
Validade: 3 anos.
Eficácia: 99,9%.
Colocado por um profissional de saúde? Sim.
Preço: R$ 850 a R$ 1 300. A colocação pode variar entre R$ 1 000 e R$ 6 000.
Adesivos hormonais
São pequenos selos com estrogênio e progesterona que quando absorvidos pela pele vão para a corrente sanguínea e não deixam que a ovulação aconteça.
Vantagens: Práticos, indolores e fáceis de usar.
Desvantagens: Não é eficaz para mulheres acima de 90 quilos. Por partir do mesmo princípio de contracepção hormonal, algumas reações, como risco maior de AVC, infarto e trombose, são semelhantes aos anéis vaginais e às pílulas de hormônio combinado.
Validade: Mensal.
Eficácia: 99,7%.
Colocado por um profissional de saúde? Não.
Preço: R$ 75 a R$ 90.
Importante: nenhum método é 100% eficaz, e os contraceptivos citados acima são apenas maneiras de controlar o ciclo menstrual e evitar gestações indesejadas — o único que protege contra contaminação por doenças sexualmente transmissíveis é o preservativo. Por isso, use camisinha, feminina ou masculina, em conjunto com esses métodos para prevenir DSTs.
(cosmopolitan)
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