“Estamos acostumadas a cobrir a pele, não a cuidar da pele”, conta a beauty artist Amanda Schön durante o backstage do desfile da Osklen, parte do SPFWN44, que acontece em São Paulo até dia 31 de agosto. A maquiadora assina uma beleza com correções mínimas, e o foco do momento é o tratamento, com processos que já viraram sua marca registrada: “primeiro fazemos uma esfoliação com máscara de argila, e depois uma massagem com óleos essenciais, como o de coco. Só usamos corretivo onde estava muito vermelho”, conta ela. As peles com sardas, marcas e especificidades brilhavam livres dentro da Bienal.
Essa beleza que respeita o histórico de cada pele é uma marca registrada de Amanda, que assinou também a beauté de inverno da Osklen no começo de 2017. Com uma pele marcada pelo frio, mas ainda assim repleta de naturalidade, ela foi uma das primeiras maquiadoras a começar por aqui uma conversa que já acontece não apenas em outras semanas de moda, mas também no mundo da beleza no geral.
“No desfile anterior, tínhamos um fator externo, de trazer uma reação ao frio na pele. Mas, mesmo assim, penso que é um tempo de usarmos a maquiagem cada vez mais para nos expressarmos, e menos para nos escondermos“, conta ela.
O mercado também tem cada vez mais refletido esse comportamento: alguns veículos de comunicação estão, inclusive, deixando de usar a palavra anti-aging para evitar a ideia de que a velhice é algo a se combater. As marcas “Skin First”, que defendem que o cuidado da pele vem em primeiro lugar, não param de crescer: a americana Glossier, por exemplo, expandiu seus negócios recentemente, chegando ao Canadá e indo constantemente para a Europa via pop-up stores. Seu lema é que o cuidado com a pele não apenas seja aliado da maquiagem, mas que venha em primeiro lugar, evitando com que as mulheres sacrifiquem sua saúde em prol da beleza. Os produtos orgânicos e simples, com mais produtos naturais do que artificiais, resgatou um contato com a artesanalidade na beleza que, em um espaço dominado pelo dos ingredientes tecnológicos, nunca fez tanto sentido.
Ainda existe um longo caminho para que a moda e a beleza consigam combater estereótipos de gênero com a maquiagem. Mas é possível: marcas como a Milk Makeup, que recentemente realizou um ensaio com pessoas que amam maquiagem e que usam seus produtos para se divertir — inclusive um menino –, estão na vanguarda dessa tendência. No desfile da Osklen, a inspiração é Tarsila do Amaral: mulher que combateu e brilhou no mercado artístico, que sempre foi sexista. Não usar a maquiagem para se esconder, mas para se cuidar e refletir sua personalidade, é um dos primeiros passos desse novo momento da beleza e do mundo.
(elle)
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